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36 anos, curiosa e viajante. Nas horas vagas, também dona de casa, professora e enfermeira.

segunda-feira, abril 13, 2015

Qual é o país que queremos?

Apesar de não falar sobre isso com a frequência que vejo por aí, eu também me incomodo com as questões sócio-políticas do nosso país. Eu também preferia viver em um país com mais segurança, educação e saúde, decorrentes de menos corrupção e menor desigualdade social.

Por isso, acredito que não devemos perder mais tempo discutindo os mesmos países ícones de uma época que acabou ou descrevendo os erros que cometemos até agora, com eventual partidarismo ou preferências pessoais. Até porque, ultimamente, essas discussões tem mais estuprado a história do que a analisado, de verdade, em busca de novas soluções.

Queremos viver em um país com melhores índices de qualidade de vida? Vamos olhar a Noruega, por exemplo, que sempre se sobressai em todas essas avaliações. Lá o Estado tem uma importância muito grande, o acesso à saúde é universal, o ensino é subsidiado. Isso acontece em outros países escandinavos, com o mesmo modelo político e que também apresentam excelentes indicadores de educação e saúde. A Finlândia, outro exemplo, tem um dos sistemas de educação mais elogiados do mundo. E apenas 2% das escolas são privadas, sendo subsidiadas por fundos públicos e não por mensalidades dos alunos. 

Podemos também analisar o Reino Unido, que tem sobrevivido com louvor à crise europeia. A saúde permanece pública, o ensino acontece de forma gratuita e integral até a adolescência. E há até mesmo incentivos financeiros para os que continuam estudando depois disso. E tantos outros exemplos de países onde “as coisas funcionam porque as pessoas funcionam”.

Mas será que queremos mesmo viver nesse tipo de país? Porque quem o constrói não é o governo. Você sabe disso, certo? A mudança deve ocorrer nas pessoas, no exercício da cidadania. E a palavra exercício já diz tudo. Não adianta falar, tem que fazer.

Será que estamos preparados para ensinar nossos filhos que eles não são especiais nem melhores que ninguém? E para vê-los estudando na mesma escola que qualquer outra criança, independente da profissão ou do nível sociocultural e econômico de seus pais?

Será que estamos preparados para lutar por menores diferenças salariais, porque consideramos aviltante que alguém ganhe 20 vezes mais que o outro? E porque entendemos que enquanto isso não acontecer não teremos os benefícios que tanto almejamos. Aquela história sobre a relação entre lavar o próprio banheiro e poder usar seu macbook no metrô...

Será que estamos preparados para não sermos corruptos e “espertinhos”? Não vamos mais furar fila, subornar o policial quando cometemos uma infração, parar em fila dupla, deixar de pagar os encargos trabalhistas, ligar clandestinamente a internet e a tv a cabo, sonegar os impostos e nem fingir que só fazemos tudo isso por culpa do governo?

Será que estamos preparados para ficar internados em enfermarias com outros leitos e para usar o transporte público ao invés do carro? Pensando em hospitais que funcionam e em um transporte coletivo capilarizado, lógico. Ainda assim, estamos preparados para abrir mão do que é supérfluo em prol de algo que funcione para todos e seja sustentável?

Será que já entendemos que mulheres e homens devem ter os mesmos salários, dividir a educação dos filhos e as tarefas domésticas? E que meninas de 12 anos super sexualizadas são crianças e vítimas e não sem-vergonhas que estão tentando seduzir bons homens? E que identidade de gênero não é doença e muito menos contagiosa?

Será que já entendemos que mérito é quando nos destacamos em relação a alguém que compete conosco em pé de igualdade? Se esse alguém não teve a mesma oportunidade que você, desculpe-me pela frustração, mas você não teve mérito algum. E, se você for argumentar que seu pai se destacou e por isso você teve essa oportunidade, lembre-se que o mérito, se existiu realmente, foi do seu pai e não seu. Continua não sendo justificativa para não termos oportunidades iguais.

E, se você acha que eu escrevi tudo isso porque defendo um partido, um governante, uma ideologia ou qualquer coisa que o valha, saiba que isso está a anos luz de ser verdade. Muito pelo contrário. Eu discordo de muita gente que defende o status quo e concordo com muita gente que acha que o Brasil está muito ruim.

A diferença talvez esteja no fato de eu achar difícil acreditar no sucesso do país porque não tenho tanta certeza sobre realmente desejarmos esse sucesso e estarmos preparados para ele. Cada vez mais desrespeitamos as opiniões contrárias as nossas e desaprendemos a dialogar. E nos tornamos cada vez mais incoerentes em nossos discursos. Fica realmente muito difícil acreditar enquanto caminhamos para abismos de intolerância e de argumentos infundados. É, meu amigo, realmente “não tá fácil pra ninguém”...