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36 anos, curiosa e viajante. Nas horas vagas, também dona de casa, professora e enfermeira.

terça-feira, janeiro 06, 2015

O Poderoso Chefão, o Oriente Médio e a violência urbana no Brasil

Havia acabado de revisitar a trilogia de O Poderoso Chefão quando terminei a leitura de O Anjo Caído, de Daniel Silva. Encontrei uma semelhança muito grande entre os 2. Não no tipo de arte ou na forma de contar uma história, mas no conteúdo em si, na raiz da violência que ambos mostram com tanta eficiência.

No último filme da famosa grife The Godfather (e isso não é nenhum spoiler significativo) Kay e Michael estão declarando seu amor, mesmo ela tendo se afastado por discordar das atitudes e reações violentas do marido em diversos momentos de sua vida em conjunto. Ele, por sua vez, mostra arrependimento e refere ter se motivado sempre na proteção de sua família. Nesse momento, alguém chega dizendo que seu anfitrião na Sicília acabava de ser assassinado por alguém que estava atrás de Michael e Kay pensa: “isso nunca termina”.

Assim também é no conflito do Oriente Médio, que serve de palco para o thriller O Anjo Caído. Em determinado momento, um personagem do livro se recorda da frase que Saladino supostamente teria dito ao seu querido filho Zahir: “Aconselho-o a não derramar sangue, a não o permitir, nem fazer disso um hábito, pois o sangue nunca dorme”.  

Ironicamente, na mesma semana que fui exposta a essa carga de violência fictícia motivada por vinganças sucessivas que parecem não ter fim, tivemos uma série de assaltos a turistas da semana de Rèveillon. Mas, ao contrário de começarmos um novo ciclo, uma nova vida, um ano diferente, os atos e discursos permaneciam os mesmos do velho 2014. De um lado, os bandidos ousando cada vez mais, não se preocupando sequer em esconder o rosto e “ostentando” suas armas e maldade a quem quiser ver. Do outro lado, um grande número de pessoas clamando por sofrimento e sangue em nome da justiça. Afinal, “bandido bom é bandido morto”.

Aturdida com a relação observada entre as antigas máfias, o eterno conflito no mundo árabe e a nossa crescente violência urbana e social, a expressão “o sangue nunca dorme” não conseguiu sair da minha cabeça. E, ainda no livro, havia uma menção a essa parte do alcorão, que acredito ser um incentivo para os jihadistas do Estado Islâmico, estes que há algum tempo são fonte de grande preocupação para mim e suponho que para muita gente:

 “(...) fechou os olhos e recitou mentalmente o Verso da Espada do Alcorão: Combatei e matai os idólatras onde quer que os encontreis, aprisionai-os, acossai-os, ponde-vos à espera e emboscai-os, usando todas as estratégias de guerra

Não me parece exagero dizer que, se trocarmos “idólatras” por “inimigos”, esse verso, que justifica tanta barbárie, parece ser inspiração não só para terroristas. Não conheço profundamente nenhum dos temas que relacionei. Nunca estudei de forma satisfatória a história das máfias, o islamismo, o conflito Israel-Palestina e nem mesmo entendo muito bem de segurança urbana. Gostaria muito de conhecer também análises positivas sobre a evolução do civismo e da bondade humana. Mas essa semana uma verdade ainda atual me assombrou: nosso sangue nunca dorme. 

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