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36 anos, curiosa e viajante. Nas horas vagas, também dona de casa, professora e enfermeira.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Vontade

Assunto que tem me tomado bastante tempo nas constantes (ou inconstantes?) reflexões diárias é o conceito de vontade e o que ela de fato representa pra mim, pros outros, enfim...

Na procura por fundamentos que me guiassem, encontrei um artigo bastante interessante que relaciona as visões de Schopenhauer e Nietzsche a respeito do tema. Já deixo aqui o link pra quem quiser fazer uma pequena digressão ou aprofundar o tema após as considerações que se seguem.

http://www.bocc.ubi.pt/pag/montardo-sandra-schopenhauer-nietzsche.pdf

Primeiro vamos a Schopenhauer. E nesse momento é importante que eu ressalte que, até agora, o pouco que sei sobre esse tal filósofo me incomoda profundamente, no que tange ao seu pessimismo insistente. No entanto, resolvi me despir de todo e qualquer pré-conceito e mergulhar em algumas das suas observações.

Schopenhauer coloca que a vontade é livre, autônoma e onipresente (...). Tudo o mais não existe sem que exista a vontade.

Schopenhauer coloca que viver é sofrer, pois a vontade é infinita e jamais saciada, ao que se acrescenta que a base de todo querer é uma falta, uma indigência. Desse modo, o homem sendo a mais perfeita objetivação da vontade, é também o mais necessitante, sendo que sua vida oscila entre a dor e o fastio.

Schopenhauer afirma que cada um dispõe do sofrimento que se faz necessário para a sua própria vida. Porém, a dose de sofrimento solicitada por um homem parece ser diretamente proporcional à sua incapacidade de reconhecê-la, reportando-o para inexistências presas ao passado e ao futuro. Nesses casos, este homem não consegue nem admitir o que o faz viver, tampouco consegue enxergar no presente oportunidade para desviar-se dessa condição. Afinal, não se aprende a querer.

Schopenhauer também fala que o mundo é a representação da vontade, espelho desta, na medida que é onde o homem pode reconhecê-la. E isto porque a vontade como essência, como coisa em si, é insconsciente em si mesma, necessitando da ação do homem para tornar-se consciente. Vale dizer que este, por sua vez, só tomará consciência da própria vontade a partir da concretização desta em atos. Ou seja, seu caráter empírico informará ao seu caráter inteligível a sua vontade após a sua concretização. Eis o mundo como representação.

Agora vamos a Nietzsche e, também aqui quero ressaltar um pequeno detalhe. Sua obra ainda é pra mim quase indecifrável. Talvez porque, quando eu comecei de fato a me interessar por filosofia, já tenha entrado “com o pé na porta” e iniciado a leitura de Além do bem e do mal, que continua me aguardando na minha estante após várias tentativas de absorver o que ali estava escrito. Mas, como sou persistente, resolvi também me entreter com suas observações a respeito da vontade.

“Só onde há vida há vontade; não vontade de vida, mas como eu predico, vontade de domínio. Há muitas coisas que o vivente aprecia mais do que a vida; mas nas próximas apreciações fala a ‘vontade de domínio’ ”.

A vontade toma por base a falta que deve ser suprida, para que haja espaço a uma nova forma de supri-la, já que a vontade é insaciável. Quanto a isso, Nietzsche fala que somente quando o homem enfastiasse-se de sua sublimidade principiaria a sua beleza.

Nietzsche propõe que cada homem deve exigir mais do que a ninguém de si mesmo a beleza, de modo que essa bondade seria a última vitória de cada um sobre si mesmo. Nota-se, no entanto, que Nietzsche diferencia esta bondade da dos que se consideram bons por servirem aos outros ao invés de servirem a si mesmos, sem darem-se conta, ao menos, de que estão satisfazendo a própria vontade de serem rebanhos ou vassalos do que quer que seja. Quanto a estes, este pensador expõe que eles colocam a sua vida no rio do porvir, acreditando em algo longe e exterior a si próprios, submetendo-se a deuses e ao futuro de maneira passiva, onde a única vontade que se manifesta é a de se realizar pela projeção em algo externo e independentes de sua existência, ainda que quem pinta os contornos dessa inconsistência brumosa seja cada um deles.

Agora, algumas considerações minhas e aqui, mais do que nunca, é relevante destacar que ainda terei que reler o artigo e as obras no qual foi baseado muitas vezes pra conseguir de fato compreender tudo o que foi escrito. Vou ousar concluir por hora com:

- Se tudo que é vivo tem vontade e se a vontade é autônoma e onipresente, não há como viver sem ela.

- Se a vontade é infinita e insaciável, por mais que você descubra formas de saciá-la parcialmente, continuará buscando e precisando de mais.

- Se você e o mundo são representações da vontade, concordo com Nietzche: tome as rédeas da situação – seja fiel a sua vontade e não a coloque na mão do que eu chamaria de acaso.

- E, por mais que a vontade seja inconsciente, procure reconhecê-la, a despeito do fatalismo de Schopenhauer ou da recriminação de Nietzsche a algumas manifestações dela. Por mais que ela seja insaciável, momentâneos prazeres acontecerão quando você saciá-la, ainda que parcialmente e, se o que existe é apenas o presente, eles hão de ser bem vindos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estão te plagiando...
ESTADO Cultura D12 21/12/2008
"O conceito nietzschiano de vontade de poder (ou de "potência", para alguns intérpretes) não deixa de ser uma resposta à idéia de "vontade de vida" de Schopenhauer. Nietzsche que, na juventude, foi um entusiasta das idéias desse filósofo, acabou chegando a um pensamento não só diferente, mas contrário, em muitos aspectos, ao de seu "mestre espiritual". De fato, nada é mais oposto à concepção nietzschiana de uma afirmação integral e profunda da existência do que a idéia schopenhaueriana de cessação da vontade, de supressão dos desejos e das paixões. Com relação à "vontade de vida" ou de "viver", como algo inerente a todo ser, Nietzsche a considera um contra-senso, já que o vivo não pode "desejar viver". Não se trata, para ele, de um desejo, de uma ânsia de vida, mas de plenitude, de potência. E potência, aqui, diz respeito a uma vontade vigorosa, a uma vontade que produz, que inventa a própria vida...."

Claudio